domingo, 14 de novembro de 2010

ESTUDAR PARA SABER.

Nasci em 1953, num família tipicamente Espírita, meus pais freqüentavam o Centro Espírita Tereza de Jesus, onde faziam parte da diretoria, e freqüentei com eles, desde que nasci até quase 30 anos de idade, todas as atividades daquela casa, que eram reuniões doutrinárias onde haviam palestras sobre o Evangelho de Jesus Cristo (Novo Testamento) e as obras de Allan Kardec (Codificação da Doutrina Espírita) às 2ªs e 5ªs feiras, e às 3ªs feiras reuniões práticas de estudos para o desenvolvimento da mediunidade, desobsessão e irradiação aos lares de pessoas necessitadas de socorro espiritual. Aos sábados eram feitas distribuições aos pobres, andarilhos, esmoleiros, e pessoas sem lar e recursos para sua subsistência, de gêneros alimentícios conseguidos através da campanha do quilo que se fazia diária e ininterruptamente; além do alimento, levavam também algum dinheiro trocado para eventuais necessidades. O número de necessitados era expressivo e o quintal do Centro Espírita ficava cheio de idosos e deficientes físicos e mentais que ali iam buscar seu alimento e remédio, pois recebiam também medicamento espiritual e homeopatia para o alívio e cura de suas enfermidades.
Nas sessões doutrinárias, eram explicados por companheiros abnegados, e algumas vezes por mim mesmo quando jovem e adulto, as lições contidas nas obras básicas do Espiritismo, como o Livro dos Espíritos e principalmente o Evangelho Segundo o Espiritismo, que diz respeito à Vida e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo, em sua passagem como filho dileto de Deus, pelo plano material. Eram também fluidificadas (energizadas espiritualmente) com medicamentos espirituais, garrafas contendo apenas água pura, que após preparadas espiritualmente, se transformavam em remédio poderoso na renovação das energias de quem delas fazia uso, com importante ação na saúde e bem estar de todos.
Nas sessões práticas, era estimulado o desenvolvimento das mediunidades dos freqüentadores que haviam passado pelo processo da desobsessão, e visitados os lares necessitados, pelos amigos espirituais encarregados, que levavam as energias e fluidos espirituais obtidos somente através da oração fervorosa à Deus e aos Mentores amigos, e onde cada um recebia de acordo com seu merecimento e necessidade.
Nas atividades de uma casa espírita, não existem quaisquer tipo de rituais. Não há acendimento de velas, uso de defumadores, bebidas alcoólicas, charutos ou cachimbos, comidas ritualísticas, batuques de tambores, roupas especiais, guias ou colares,  sacrifício de animais ou qualquer outro tipo de ritual, africano ou de qualquer outra etnia, seja por parte dos membros da casa ou dos espíritos comunicantes que ali trabalham.
O Espiritismo é apenas e tão somente uma doutrina filosófico-científica de conseqüências religiosas e para a sua prática necessita-se apenas as obras básicas da doutrina, ou sejam os 5 Livros escritos pelo seu fundador, nosso querido Allan Kardec, que são O Livro dos Espíritos, O livro do Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. Existem ainda Obras Póstumas, publicadas com material deixado pelo Codificador da Doutrina, após o seu desencarne.
É claro que outros espíritos encarnados e desencarnados vieram ao mundo com a missão de dar continuidade à obra de Allan Kardec, ampliando e aprofundando os conceitos básicos por ele codificados e enobrecendo ainda mais com a  extensão e exemplificação dos ensinamentos cristãos deixados por Jesus, destacando-se evidentemente o nosso querido Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco, Waldo Vieira e muitos outros, conhecidos e anônimos, que serviram de instrumentos aos mais elevados espíritos como Emmanuel, André Luiz, Bezerra de Menezes, Sheila, Joanna de Angelis etc...
Aos vinte e cinco anos de idade, ainda no ambiente Kardecista, tive os primeiros contatos com espíritos desencarnados, militantes de rituais Umbandistas diferentes, onde influenciados pelo Esoterismo Oriental, trabalhavam igualmente na seara do bem, aliviando os sofrimentos e sempre que possível reerguendo e curando os necessitados de toda sorte. A Instituição sem nome, era derivada da Fraternidade
Espiritualista Cavaleiros de São Jorge, com sede em Porto Alegre e com relevantes serviços espirituais prestados à sociedade gaúcha no desenvolvimento de mediunidades, desobsessões e curas. Ali descobri que era protegido por Ogum Beira Mar, espírito nobre, guerreiro do bem e membro de uma poderosa falange de guerreiros desencarnados em trabalho, na Terra, de auxílio à todo tipo de necessidade, auxiliado principalmente no combate às demandas e contendas entre o bem e o mal.
Por influência da formação Espírita a que me submetera até então, formação altamente esclarecedora das realidades espirituais da vida, tive enorme dificuldade para vencer meus condicionamentos e compreender e aceitar novos conceitos relacionados à forma e técnica utilizada na relação com a espiritualidade naquele ambiente. Lá faziam-se defumações, utilizavam-se velas e pembas (um giz branco especial de formato ovalado) e por influência oriental utilizavam-se piras, onde o álcool era o combustível utilizado na manutenção da chama. Mas como as bases eram a do Amor à Deus e ao Próximo, como ensinado por Jesus, tudo ficava mais fácil. Pude perceber o quão preconceituoso e discriminativo e até mesmo fanático eu podia ser com relação aos detalhes na condução daquilo que para mim era muito precioso, qual seja a relação entre o mundo espiritual e o material através da mediunidade.
Conhecendo a missão que eu tinha de trabalhar em ambiente Umbandista, a espiritualidade já me havia providenciado a formação Espírita para que não me deixasse levar por influências outras que porventura viessem a surgir em meu caminho, me afastando da Cristandade, o único caminho para o progresso espiritual e ascensão à Deus.
No passo seguinte, por que me encontrava em expiação por não aceitar muito bem determinados aspectos ritualísticos e porque era ainda um espírito rebelde sem condições de promover meu próprio reequilíbrio e cura por esforço próprio, fui conduzido pela dor ao ambiente Umbandista Africano. Tive então meu primeiro contato com o ritual Almas e Angola, um meio termo entre a Umbanda e o Candomblé, que aprendi a amar e respeitar. Após 7 dias de recolhimento num processo ritualístico denominado "camarinha" renasci para a vida. Fiquei mais forte, saudável e recuperado física e espiritualmente dos estragos a que me havia submetido com toda sorte de excessos materiais e espirituais. Não obstante, jamais em toda a minha vida me afastei da Doutrina Espírita, que continuei estudando e praticando, junto com a utilização da mediunidade, dentro da Umbanda.
Hoje, posso sem medo dizer que ainda "estou Umbandista", pois a minha tarefa nessa seara ainda não está terminada. Ainda tenho muito que aprender, embora já tenha percorrido um longo caminho onde o aprendizado foi constante. Hoje, já consagrado como sacerdote de Cultos de Almas e Angola, posso com segurança fazer uma retrospectiva do meu trajeto pessoal e utilizando a balança da razão, do amor e da intuição, aliados à orientação dos amigos espirituais concluir o que adiante exponho. Não Tenho aqui nenhuma pretensão de ser dono da verdade, e tudo o que afirmo se baseia em estudo, observação, experimentação e honestidade, para com Deus (Olorum), para com Jesus, para com Oxalá, para com os Orixás,  para comigo, para com a Umbanda e para com toda a humanidade minha irmã. Desde já me desculpo com qualquer pessoa ou instituição que possa, sem querer, ofender ou discordar e estou totalmente disposto a rever e corrigir meus pontos de vista, quando não estejam de acordo com o que foi ensinado por Jesus Cristo, Nosso Mestre e Senhor pessoalmente, ou através de seus enviados, encarnados e desencarnados, reconhecidos publicamente como tal.
Meus queridos Espiritismo é o nome de uma Doutrina, filosófico-científica, de conseqüências religiosas, constituindo-se popularmente como uma religião. Portanto, não pode haver Centro de Espírita de Umbanda, como não há Centro Católico de Umbanda, Centro Protestante de Umbanda. Centro Muçulmano de Umbanda, Centro Budista de Umbanda etc...
O nome para os nossos templos Umbandistas podem ser Terreiros de Umbanda, Centros de Umbanda. Casa de Santo, Casa de Almas e Angola, Terreiro de Almas e Angola, Terreiro de Umbanda do Caboclo..., Terreiro ou Centro de Umbanda Pai...do Congo ou de Angola...Centro de Umbanda de São Jorge ou São Sebastião, Tenda de Umbanda de Oxoce ou de Yemanjá, ou de Iansã etc., etc., e etc....
É preciso que tenhamos orgulho daquilo que somos e que paremos de disfarçar a nossa realidade sob a máscara de Espíritas, não apenas porque não somos Espíritas, somos Umbandistas, mas porque estamos comprometendo os dogmas de outra manifestação religiosa que é a Doutrina Espírita, completamente diferente e diametralmente oposta em suas práticas, à nossa Umbanda, ao Candomblé e todas as outras modalidades de práticas religiosas existentes. Isso só serve para confundir a cabeça das pessoas leigas e dar margem à difamação e calúnias de membros fanáticos de outras religiões que se prevalecem dessa falta de entendimento para espalharem a maledicência e de outros mal intencionados mesmo dentro da própria Umbanda que querem tirar proveito dessa situação porque lhes convém.
Houve uma época na história da humanidade, em que as práticas religiosas de origem africana eram mal vistas, era sinônimo de feitiçaria, magia negra, exercício do mal. Chegaram a batizá-la de macumba, que significa batuque e não feitiçaria como queriam alguns ignorantes. Macumba nada tem de mal. O mal está no coração e na cabeça do homem.
Claro que ainda existe muito disso por aí, afinal Deus dá o dom para ver como utilizamos e, diga-se de passagem nem todos honram o  lhe é dado. Mas isso é problema de cada um, afinal é tudo entre a gente e Deus. Deus põe e o home dispõe como quer. Só que a semeadura é livre mas a colheita é obrigatória e haveremos de colher cem por um de tudo aquilo que plantarmos.
Não precisamos nos fazer de Espíritas até porque a Umbanda tem seu próprio corpo doutrinário que são os ensinamentos de Jesus, pregados pelos nosso queridos Caboclos e Pretos Velhos. Até o Candomblé tem sua própria doutrina baseada na cultura milenar dos povos africanos. Recentemente li na frente de um Terreiro da melhor qualidade - "Centro Espírita Almas e Angola"- sinceramente, fiquei chocado.
Por isso meus queridos, façam a si mesmos um grande favor - troquem a palavra Espírita que exista na frente do seu Terreiro pela palavra Umbanda ou Umbandista e se orgulhem disto, afinal o que conta na hora do nosso desencarne são as nossas obras e não o rótulo que tenhamos na testa, de espíritas, umbandistas, católicos, evangélicos, budistas etc.
Tenho dito!!!

3 comentários:

  1. Muito esclarecedor, fui ao Cavaleiros de São Jorge e sim...me senti em um centro de umbanda, sendo que alguns "pontos" são ditos com "outras" palavras.

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  2. Parece errado ser umbandista, mas fomos defumados, os médiuns usam guias, os orixás estão representados em pinturas:Ogum Iemanjá, Xangô entre outros. "A umbanda é paz e amor...
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